A insustentável leveza das decisões

Vem Kafka com Milan Kundera e a saga da primavera de praga. A Sutil leveza e avaliação, sobre a importância de qualquer decisão

O ano era 1985 Eu morava e trabalhava na roça. Mas pensava que aquilo ali não era o meu lugar. Eu decidi sair da roça e a alternativa que me ocorreu foi fazer um concurso para entrar na polícia militar. Meu pai tinha sido sargento e professor de tiro no exército, foi absolutamente contra. Ele conheceu e teve inteligência pra me orientar, que aquilo alí não devia ser o meu lugar, mas como foi a única alternativa que apareceu, no dia 15 de dezembro eu caminhei 12km, num domingo de chuva, até a terceira companhia, para descobrir que o concurso fora adiantado em 3 dias. Já era. Na época dos meus 18, felicidade era aparecer uma oportunidade. Hoje a angústica é qual curso escolher para a universidade, então imagina a frustração quando cheguei no portão fechado.

Neste momento passava o padre José Carlos Stival atrasado para a missa do dominical.

Para se desvencilhar da minha companhia, sugeriu que eu fosse conhecer o seminário que ficava a 200 metros. Naquele dia só estava oo seminarista, Reny Pereira, fazendo uma gaiola para coelho.

Quando ciente do meu calvário sugeriu que o seminário era uma alternativa para mudar de vida e sair da roça.

Imagina a alegria dos meus pais, quando voltei com essa decisão. Hoje analisando o meu passado cheguei a conclusão que o acaso me levou para o caminho da salvação. A decisão de ir para o seminário, foi a mais acertada da minha vida. A segunda, foi ter saído.

Quando em 1990, li a introdução e fui ao cinema itália assistir o filme da obra do milan kundera, falecido no último dia 12, aos 94 anos, não imaginava uma história que me significasse e influenciasse tanto. O autor é genial ao apontar esses acontecimentos aleatórios e que na maioria das vezes, mesmo que não tenham relação com a nossa existência, tem o poder de mudar completamente o nosso universo. Na obra 'a insustentável leveza do ser mostra que o encontro de thomas e tereza só aconteceu, porque o patrão do thomas teve problema no nervo ciático e pediu para o thomas substituí-lo em uma consulta a um cliente no interior provincial. E foi lá que conheceu tereza.Thomas era um sujeito que a felicidade estava nele mesmo. Tinha domínio do seu universo. Tinha um emprego de neurocirurgião, uma namorada, amante... Tereza era uma moça linda. Balconista de boteco, mas angustiada. Em sua vida a felicidade estava fora: a felicidade estava em conseguir um bom trabalho, um marido, uma família... Uma felicidade que nunca chega, porque só existe fora.

São duas pessoas tão diferentes e um acontecimento que não tinha nada a ver com nenhum deles, acabou os unindo para desembocar na mesma tragédia.