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Clervaux, panteão do cantão

25/06/2024 14:13

PAULO ADEMIR BRAUN


Olimpo vale claro da discrição

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Clervaux, panteão do cantão 

Helena de Tróia era maravilhosa. Perigosa, fez uma guerra entre gregos e troianos. Mas a culpa não foi d'Ela. Salvo engano a culpa foi do Homero. Ele é que inventou e publicou essa história, que o Paris estava saindo com Ela. Ela era casada com Menelau. Menelau era o rei dos gregos. Era o corno do mato. Descobriu e sai gritando: eu mato, eu mato... Quando ele deu o cavalo de pau, todo mundo ficou sabendo do que aconteceu, porque o Homero publicou.

Clervaux é muito melhor que Tróia. O mundo não conhece Clervaux por falta de um Homero. As histórias reais são muito mais fenomenais que as invenções do Homero. Não tem ninguém pra contar ou publicar, esse é o problema. Guerra aqui nas Ardenas só por estupidez. Nunca por motivos tão nobre. Em quase todas as guerras, Clervaux estava no centro. Foi assim na batalha das Ardenas, na segunda guerra mundial. Na primeira guerra. Na guerra napoleônica. Tem até um Museo de guerra. Mas não tem história e nem estória. Tem, mas não tem quem escreva e publique. Eu estou sabendo uma da futura Gran duquesa, mas como não tenho certeza, por enquanto não vou falar... Primeiro vou investigar.

Clervaux não tem história e nem memória. Ninguém sabe nada daqui. Clervaux é uma espécie de São Paulo. É a capital do cantão que tem o mesmo nome, mas nem a Wikipédia faz referência. Não tem um livro. Não tem uma biblioteca. É lastimável. Clervaux quer dizer Vale Claro. A única cidade da região que tem nome de origem do Latim. O nome foi dado pelo imperador Constantino, o Grande (que também foi um corno do mato. Matou o próprio filho Crispo que foi amante da sua esposa Fausta e que também a matou) quando da volta da Bretânia, no ano de 306. De passagem para Trier ele anunciou a construção de uma fortaleza militar onde hoje é o castelo. Palavras dele, 'vamos construir uma fortaleza neste vale iluminado'. E assim de vale iluminado passou pra Clara'Valis, Clierf e agora Clervaux afrancesado, mas ninguém sabe disso.

Clervaux tem uma discrição e ambientação pra quem deseja viver de paixão. Victor Hugo veio a Clervaux com a amante várias vezes. O rei da Holanda Guilherme I mandou construir um canal de navegação, ligando o Rio Mosa ao rio Mosela, com 218 eclusas, para fazer o rio subir de 60m para 500m. Fez um túnel na crista da colina, só pra vir a Clervaux, encontrar com sua amante Henriette d'Oultremont, que era belga. A Bélgica fez uma revolta e pediu a independência, mas os motivos sempre foram mal explicads. Falam que ela era católica e ele protestante, imagina... Tem muita história por aqui mas ninguém conta. O Humberto Eco veio morar aqui. Veio morar na abadia pra investigar a história do Nome da Rosa. Mas não quis falar qual era o nome da Rosa e nem quem era a tal Rosa. 

Tem muita história e muita história mal contada. Ontem na caminhada eu encontrei Simone (Simone de Beauvoir) inconformada. Não conseguia aceitar a passividade da mulherada. A falta de atitude ou na atitude uma posição errada. Disse que veio pra cá, pra descansar. No céu não dá pra ficar e o inferno é um calor de lascar. Vai retomar a luta e a conscientização. Não se pode aceitar que em 1700 anos não existe nenhuma mulher de destaque neste lugar. Não é saudável para o feminino que só se possa falar das amantes. Claro que paraíso é, por elas. Tudo bem que Clervaux tinha vocação, para a paixão. Mas a religião acabou. Em 1803 Clervaux não tinha igreja, mas tinha diversos cabarés. O bispo mandou construir uma igreja no centro. A maioria dos paroquianos preferia ir pra outras freguesia rezar. Mas a igreja foi como fumaça na colmeia. Hoje não tem cabaré e a igreja, mal frequentada. 

Clervaux tem vocação para ser maior que Las Vegas. Está no  coração, no coração da Europa. É considerado o pulmão. Respiração ofegante não é o bastante. Precisa ter quem conte. Não tem um Homero que mostre, mesmo que invente. Não existe uma estátua. Nenhum livro. Nenhuma referência a nenhuma mulher em toda história de Clervaux. Simone estava indignada, que a única visitante ilustre que a a história regista, é a da Juliette Drouett. A amante submissa e serviçal de Victor Hugo. Dizia que esse comportamento não era digno de mulher nenhuma, tão pouco da amante de um miserável como o Victor Hugo que nem Hugo era (era filho do amante da mãe). Por isso, dizia ela, que Clervaux tem esse jeitão de tapera. 

Claro que ninguém quer falar mas tem muita coisa acontecendo. Os grandes estão chegando. Tem muita gente boa que ficou sem lugar. Não foram para o céu porque eram ateus mas de muita qualidade para ir para o inferno. Deus ou o diabo. Céu ou inferno são monopólio do cristianismo. Tem muita gente Buena que não acreditou nessa cantilena. Desde que Umberto Eco falou que Jorge Luiz Borges é o bibliotecário da abadia, eu passei a observar e descobri que os bons estão por aqui. Artistas a exemplo de John Lenon, Judie Foster, Uma Thurman, Cássia Heller... Umberto Eco, Carl Marx, Sartre e Simone de Beauvoir.  Oscar Niemeyer disse que vai aproveitar as curvas de Clervaux e redesenhar, e Pablo Picasso vai pintar.... assim como Salvador Dali. Outra que vi, Marie Duplessis, a dama das camélias que dizia que amava homens ricos e camélias. Essas não tem cheiro e eles não tem coração. Clervaux está por aqui, a espera de Angelina Jolie, Camila Pitanga, Malu Mader, Sandy, Mel Lisboa e André Beltrão, Chico Buarque e o gauchão Luiz Fernando Veríssimo que disse que no inferno o clima é insuportável e o céu não convém. Uma eternidade na companhia dessa gente do bem.

Clervaux é o paraíso que precisa ser ressuscitado. É preciso refazer o canal. Revitalizar a hotelaria. Reconstruir os bordéis. Transformar a abadia em um hotel cassino. E o principal, silenciar o sons dos sinos. Resgatar a alma da existência, que sustentou a essência de muita gente Buena que não liga pra essa cantilena da transcendência. Gente do tipo de Aristóteles, Descartes, Nietzsche, Marx, Freud, Galeano e Oscar... merecem ter seu lugar. Clervaux é o paraíso que vinha antes do cristianismo. Quando se ganhava a eternidade pela excelência. O paraíso dos Estoicos. Os bons estão por aqui, em silêncio e discrição.





Ademir