• Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner
  • Banner

Geral

Evita

A odisseia sinistra

Evita 


A força deixa a história mal contada. De família desestruturada, Evita era bonita e tinha a sorte mesquinha de ser pobre. Se é pobre e bonita vai carregar a sorte maldita de viver assediada. As filhas Órfãs do capitalismo, na travessia deste abismo, vão ser seduzidas, objetificadas, instrumentalizadas e usadas para atrair poder. Foi o que se sucedeu com Maria Eva Ebarguren (Evita Perón, por consequência).


Maria Eva parece mulher excluída. Evita, fica mais bonita. Quinta filha de uma família ilegítima. Não herdou, se quer, o sobrenome Duarte, do pai, Juan Duarte, que havia comprado a mãe Joanna (agraciada por Deus), por um burro e uma carroça.  Quando tinha 7 anos, seu pai morreu e ela compreendeu a sina de ser bastarda. Seu precário boletim registrava, que ela aprendeu a lição, na escola da pobreza, com a professora esperança, que na sesmaria da miséria, sempre morre calejada, desesperada de tanto esperar. As estrelas relusiam em seu telhado, por onde a chuva escorria, enquanto as ilusões fugiam pelas frestas. No dia de reis pediu uma boneca, e recebeu uma, só com uma perna, que foi a única que a mãe conseguiu, dizendo que a perna quebrou, quando caiu do cavalo do Balthazar. Assim ela concluiu que não devia confiar, nem em reis e nem nos adultos. 


Com a morte do pai não tinham mais nada para esperar. Deixaram Los Toldos e foram morar na rua Inverno 90, na cidade de Junin. E assim ela se foi, sempre com um olhar distante. Queria ser atriz, se realizou acompanhante. Cansada de nunca ter nada, tinha tudo que a caridade dos ricos precisava para aliviar sua culpa. A esmola dos abastados, vem afiada, quando vem por caridade. A caridade, na verdade é o exorcismo da hipocrisia com cinismo. Só alivia o peso na consciência dos ricos. As senhoras conservadoras e seus maridos bem constituídos, que engravidavam suas amantes e as crianças espelhadas na bastarda Eva, contra quem as senhoras exerciam a sua vingança. Cholita se cansa desta vida de criança. Com 15 anos abandona Junin, a família e se vai a Buenos Ayres, tentar a vida, iludida, na companhia de um canastrão, algo que vira rotina, no mundo dos "vivos," onde sua juventude e beleza foi seu maior ativo. Moeda corrente, no ambiente machista. 


Evita tinha uma grande qualidade, desde a tenra idade tinha noção das injustiças. Falava: "os pobres são como grama, são muitos. Os ricos são como as árvores." "Os pobres são muito pobres, porque os ricos são muito ricos." Eva Maria Duarte Perón era uma menina com sina e alma latina, diferente de Eva Braun que só queria um trabalho, mas por ser pobre e linda, foi mais longe ainda. Filha de país separados, conseguiu um trabalho de assistente do fotografo particular do presidente, e assim ficar permanentemente presente, que acabou em casamento, tão feliz que conseguiu se suicidar 33 horas depois de casar, aos 33 anos. Eva Anna Paula Hitler, foi queimada e seus restos mortais foram enterrados em sepultura clandestina. Seu corpo teve descanso final, só em 1970, 25 anos depois, quando seu corpo foi exumado, cremado e as cinzas jogadas no rio Biederitz, afluente do rio Alba.


Pelo que consta, Eva Braun só queria trabalhar. Foi iludida encurralada, explorada... Não teve escolha na ditadura de Hitler. Num período democrático da Argentina, a sina de Evita tinha essa ambientação de conto de fadas. Menina bastarda, acostumada a não ter nada, Eva Maria Erbaguren, foi crescendo e descobrindo que seu corpo tinha valor no promissor mundo da política. De tanto usada, essa artimanha, e não sentir nada, foi ficando assexuada. Casou com os interesses do presidente Juan Domingo Perón, que precisava de uma menina, que lhe service de cortina. 


Nossa Senhora da Esperança. Santa Evita. Mãe dos pobres, algumas das denominações atribuídas a Evita, para a transmutação da sua submissão em mito. Esse embuste maldito que a população se entrega, na ausência do funcionamento das instituições. Desespero. Essa mitologia na política é a maior fraude  e instrumento de desmobilização. Evita alagou o terreno da esquerda, não permitindo  estrutura de mobilização política crítica,  para o enfrentamento consciente dos problemas argentinos.  A Argentina é vítima desta fraude maldita. Elite parasita que se aproveita da ingenuidade da sociedade que se atraí por seus mitos. 


Não há como negar que a trajetória pessoal da Evita, é pra se admirar. Uma trajetória meteórica. Nasceu subtraída de direitos e dignidade. Bastarda e sem sobrenome, não merecia nem a companhia, das crianças de família. Sua valentia foi revolta contra a hipocrisia. Venceu e não esqueceu dos seus. Dobrou a aposta, quando a banca tinha lhe virado as costas. Amadora, não entendeu, que é o banqueiro que dá as cartas... para os seus.


Evita foi um  mito criado pelo rádio. Nas ondas da imaginação, manipulada por uma burguesia descarada, foi se cristalizado no inconciente da população. Ela foi uma bandeira, encarnada, usada para deturpar ou sabotar a esquerda e o feminismo. Não propôs uma única pauta para facilitar ou pelo menos aliviar a sina feminina. Apelidada de mãe dos pobres,  não teve nenhum projeto de sua autoria que realmente melhorasse a vida dos pobres ou trabalhadores. Nem sua candidatura a vice do marido, conseguiu emplacar. O esquisito é que parece que a vida tem um limite, onde morre a farsa e nasce o mito. Evita morreu aos 33 anos. Evita foi uma fraude política, como foram todos os mitos, usados para solapar as instituições. Soluções sociais só acontecem pelas instituições.


Neste pano desenrolou o desenganado. Karl Marx já dizia que "a vida começa como tragédia e termina como farsa." Evita sonhou ser atriz, se realizou acompanhante. Interessante é constatar que a sua infância só lhe permitia sonhar. Sonhava em representar, que não deu em nada. Ganhou Hollywood, não como atriz, mas como personagem principal de vários filmes. Evita iluminou as marquises dos teatros da Broadway. Política, acabou em espetáculo.


Espetacular também foi a sua trajetória como morta. Duas semanas de velatório. Mais de 2 milhões de pessoas acompanhando o cortejo. O médico contratado para embalsamar, demorou um ano, por ficar apaixonado, e ficou com o cadáver a seus cuidados, esperando o mausoléu encomendado. 3 anos se passaram e os militares derrubaram Perón, da presidência. O cadáver trocou de mão e o general encarregado levou o caixão pra casa. A insônia lhe perturbou, por paranóico mantou a própria esposa, grávida. Apaixonado pelo cadáver, foi denunciado e o presidente milico Aramburu, nomeou outro encarregado de negociar com o Vaticano, a transferência do corpo para a Itália. Clandestinamente descansou por lá, durante 14 anos. Aramburu foi assassinado, seu corpo sequestrado e usado como moeda de troca. E assim Evita, enfim, pode voltar para descansar no cemitério da Recoleta. O mais emblemático de Buenos Aires. Sarcástico, o mito insepulto da Evita continua assombrando a Argentina.


 


 


 

Fonte: pesquisa

Autor: Paulo Ademir Braun

Crédito da imagem: Paulo Ademir Braun

Repórter: Paulo Ademir Braun

Mais notícias