Comércio
Desde o princípio do mundo, a maioria das pessoas estavam longe das rotas comerciais ou simplesmente não existia o comércio, numa larga escala deste tempo. As pessoas produziam tudo o que consumiam. Poucas pessoas hoje, produzem o que consomem. Tudo está à venda. O comércio transformou o mundo.
No princípio as pessoas colhiam e cassavam para se alimentar. Plantar, colher, trocar foi o que as pessoas faziam quando passaram a morar onde produziam o que comer. Lascas de pedra sílex, encontrada muito longe do local de produção, há 12 mil anos, indica transação comercial desde então. Sempre que duas pessoas tenham coisas diferentes, sendo que ambos tenham o que o outro precisa, sinaliza que pode haver uma troca. O difícil era viajar até encontrar alguém com essas condições. O comércio a base de troca perdurou por milênios. Pra facilitar foi preciso criar referência de valor, mais fácil de carregar: o dinheiro. Creso, rei da Lídia, (560 a 546 A.C.), o homem mais rico do seu tempo, foi o criador do dinheiro. Primeiro grande produtor de perfumes e cosméticos. Coincidência com Bernard Arnaud o mais rico atual, vendendo supérfluo. 'Supérfluo é caro, porque vem com saro sobre a miséria'.
O comércio foi o que fez a evolução do mundo, e seu movimento. As especiarias, a pimenta principalmente, motivou as grandes navegações comerciais. A Espanha financiou o trapalhão Cristóvão Colombo, para ir para a Índia. Mas ele não sabia pra onde ia e quando voltou não soube pra onde foi. No tratado de Tordesilhas, os reis de Espanha e Portugal dividiram o mundo e eu fiquei exatamente no meio. Ninguém precisou me ensinar. Nasci predestinado. Comecei bem. Meus primeiros trocados ganhei no comércio internacional: Contrabando, no caso.
O pioneirismo e a habilidade dos Finicios, sacramentou esse exercício de intermediar e facilitar a vida de produtores e consumidores. O consumidor - produtor de lixo - é o alvo. Quem viu e entendeu, vendeu e venceu. Quem perdeu foi quem comprou. Se quiser enriquecer, aprenda a vender. Na era dos grandes descobrimentos, Espanha e Portugal tinham a riqueza, ouro e prata. Podiam comprar. A Inglaterra se especializou em vender. Ficou com o ouro e a prata e eles com o lixo.
A sagacidade do comércio criou a escrita e a necessidade, e assim eu tenho a felicidade de escrever sobre um sonho de criança, um rude Mascate Campeiro, com um baú abarrotado de esperança, que por necessidade, entrou na dança de vender. Entender que para alguém produzir e outras tantos, consumir, precisa existir o atravessador, mascate, comerciante, mercador, bolicheiro, camelô, bodegueiro ou simplesmente vendedor.
O dinheiro é o sangue do comércio. O comércio tem o dinheiro como o principal aliado. Papel timbrado com um valor de ficção, sustentado pela confiança em quem emite. Desde o falsário John Law, fundador do Banco Generaly e emissor do primeiro papel-moeda francês, garantido pelo rei e lastreado num ouro ainda não garimpado, que começou a quebradeira por desconfiança. Confiança é o maior valor, mas a ganância não tem nenhum apreço, por isso tudo perdeu valor, limitado pelo preço. O mercantilismo pariu o capitalismo, essa religião cega, que faz a ambição trocar tudo por papel moeda, com valor de ficção. O dinheiro é o único deus, que tem unanimidada, em toda a humanidade. Desde então as crises são por desconfiança. Passando pela quebra da bolsa de Nova York, em 1929, conhecido como a Grande Depressão, confiança já era, e qualquer bolha, gera uma cratera. Quero aproveitar para alertar que o dólar era a moeda do mundo, amparado no crédito do governo americano, que por burrice está se auto sabotando. Vai levar o tombo.
Cresci observando, mas só agora entendi, o significado de policrônico. Minha mãe lustrava o chão com um livro na mão; enquanto assistia a televisão e orientava a criançada. Não mais o dinheiro, mas o tempo é um ativo preciso na mão de quem tem um bom poder aquisitivo. Esse indivíduo tem um impulso por fazer várias coisas ao mesmo tempo: policrônico. O comércio e o pagamento eletrônico maximizam o tempo. O dólar será PIXado.
Todas essas voltas pra dizer que, no domingo passado eu me deparei com um lugar inusitado. A Feira da Pedrinha. A feirinha do desapego começa cedo, 6 horas da manhã, todos os domingos. Na rotatória do Guaraituba, e se espalha pros dois lados. Milhares de pessoas, trocando, comprando e vendendo. Garimpando por um achado ou se desfazendo do que andava encostado. Um tipo de comércio que quase não se vê mais. Remonta a tempos ancestrais. Dei uma volta, no tempo. Hoje voltei, mas não comprei. Só troquei umas ideias. Trocar ideia é o melhor negócio. Troca uma e saio com duas.
Fonte: pesquisa
Autor: Paulo Ademir Braun
Crédito da imagem: Paulo Ademir Braun
Repórter: Paulo Ademir Braun