Ganhei na loteria

É um jogo, a vida, se bem vivida, a cada partida se ganha um pouco pela sorte até que o tempo e a morte mostrem as cartas.

Ganhei na loteria

Eu sou um contador de história, não um contador de cartas. Ganhei na sorte mesmo. O azar e a sorte estão no mesmo baralho, tudo depende do corte. Esse prêmio pode ser o resultado do universo jogando dados. 'Deus não joga dados' A.E. Nenhum deus daria conta de prever ou calcular o resultado. Eu sou jogador e sei que as combinações dos dados é simplória frente as combinações genéticas necessárias para que eu fosse o vencedor. Pra comemorar vou contar os lances preparados pelo acaso, combinado com o universo conspirando.

Por esses dias, pesquisando sobre a maior tragédia da migração luxemburguesa para o Brasil, fui embaralhado pela reflexão, e por quantas situações que é preciso acontecer, cruzar e torcer para as pessoas certas se encontrarem e se conhecerem até que eu conseguisse nascer e sobreviver.

A grande tragédia aconteceu em 1828. Mesmo ano e contexto que os meus Hexavôs Jung, abandonaram Dörbach, Alemanha e embarcaram para o Brasil. Walter Jung morreu na travessia e a viúva, Susana Margaretha Geisen, sentiu o vazio e o frio de ficar sozinha. Ainda no navio, conheu um soldado para casar, no desembarcar. Meu pentavô, Mathias Jung, foi com a família morar em Picada feijão. A descendência seguiu pela Picada Café e Joaneta, até meu avô Mathias Jung encontrar a minha avó, Hilda Schmidt, em Pinhal Alto.

A Hilda Schmidt é descendente de Johann Carl Schmidt, que chegou no Brasil em 26 de agosto de 1846. Vindo de Rosweiler, Alemanha. Construiu uma casa na Picada Holanda, onde a casa ainda se encontra. Do Carl Jung aos hexanetos, são 3792 descendentes, entre eles minha vó Hilda.

Meus avós maternos, se casaram em Pinhal alto e migraram para as missões, onde minha mãe, Nelsi Schmidt Jung, nasceu em Santa Rosa, cresceu lá e aos 17 anos partiu de mudança em carroça de boi, para Palma Sola, SC. No chegar conheu meu pai, Arno Adolfo Zimmer Braun já com 29 anos. Meu pai ficou encantado, era um homem compromissado, mas desmanchou o noivado. Ajustarem os planos e se casarem, para ensaiarem por três anos, até que eu venci e nasci, pra mostrar quanto o acaso precisa conspirar, para que eu pudesse existir.

Arno Adolfo Zimmer Braun, bisneto de Estevão Braun, morador de Monzenfeld, Alemanha, que imigrou com os pais, indo morar em Santa Cruz do Sul, RS, onde nasceu meu avô Pedro Luiz Braun, que migrou para a região das missões. Casou e enviuvou já com dois filhos, então casou novamente com a minha avó Maria Zimmer.

Maria Zimmer era bisneta de Johannes Zimmer, Luxemburguês de Moersdorf. No ano de 1858, Johannes Zimmer imigrou para o Brasil, com esposa e 6 filhos, indo morar no Morro Canastra, interior de São Vendelino RS. Ali minha vó nasceu e sofreu três acidentes pelos quais foi acusada, deixando a família envergonhada. Abandonaram o Canastra e foram morar em Roque Gonzales onde foi induzida a se casar com o viúvo Pedro Luiz Braun.

Minha avó Maria Zimmer foi vítima do azar de estar subjugada a uma cultura religiosa e paternalista que penalizava sempre a vítima. Provavelmente esse estreitamento das suas opções de casamento fez com que eu acertasse todas as combinações e nascesse Paulo Ademir Jung Braun, vencedor da corrida, pela vida.