15/09/2023 10:08
A masculinidade era um ideal espiritual enigmático e complicado. Agora se tornou um corpo impossível. Quem levar a sério a exigência social de ser homem, poderá entrar numa aventura dolorosa.
A masculinidade era um ideal espiritual enigmático e complicado. Agora se tornou um corpo impossível. Quem levar a sério a exigência social de ser homem, poderá entrar numa aventura dolorosa.
Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante em Cascavel, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para um nécessaire masculino, me veio ao cocuruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho jurubeba. Como bem sabemos amigo, o macho jurubeba é o macho roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos. Praticamente extinto, sejamos sinceros. Não há esperança, o velho Olimpio, meu avô, lá no seu rancho nas bordas da chapada do Sul, deve ser um dos derradeiros da legião de bravos. O macho jurubeba é um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 90 – quando Deus fez de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual. Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico. Era sim naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia. Vemos também, no fundo do embornal, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.
Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra hume, o seu pós barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos homens de maior distinção em todo o mundo. Investigamos também, no kit do macho jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca. Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara, se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo. Objeto de investigação e estudo do caboclo pré metrossexualismo, a capanga dos mais espertos continha ainda um canivete e, para eventuais dores de macho, cachetes de Cibazol. Aí, porém, já saímos um pouco dos cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu deste homem que, para o bem ou para o mal, já era.
Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante em Cascavel, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para um nécessaire masculino, me veio ao cocuruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho jurubeba. Como bem sabemos amigo, o macho jurubeba é o macho roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos. Praticamente extinto, sejamos sinceros. Não há esperança, o velho Olimpio, meu avô, lá no seu rancho nas bordas da chapada do Sul, deve ser um dos derradeiros da legião de bravos. O macho jurubeba é um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 90 – quando Deus fez de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual. Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico. Era sim naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia. Vemos também, no fundo do embornal, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.
Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra hume, o seu pós barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos homens de maior distinção em todo o mundo. Investigamos também, no kit do macho jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca. Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara, se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo. Objeto de investigação e estudo do caboclo pré metrossexualismo, a capanga dos mais espertos continha ainda um canivete e, para eventuais dores de macho, cachetes de Cibazol. Aí, porém, já saímos um pouco dos cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu deste homem que, para o bem ou para o mal, já era.