14/07/2023 07:23
Sentar numa mesa de bar ou num balcão para saborear uma boa cachaça, não tem preço, tem prazer...
Sentar numa mesa de bar ou num balcão para saborear uma boa cachaça, não tem preço, tem prazer...
Vou pedir ao Junior Vieira, meu Editor Chefe, que mude meu dia de escrever. Sexta feira não é um bom dia. Sexta feira já ganhou o título de SEXTOU e aí já se imagina que sexta feira é dia de BB (belisco e birita).
Hoje, num bar de aqui de Santa Tereza tomei uma cachaça que era simplesmente o “must”, aí me veio a ideia de escrever minha crônica sobre a malvada pinga.
A cachaça antes do almoço e antes do jantar, é a abrideira. Toma-se uma, duas, três, a vontade do freguês. Os senhores mais respeitáveis, que não bebem, ainda assim fazem questão da abrideira – mas só um cálice. Isso é para as crianças ficarem sabendo que o dono da casa tem certos privilégios.
Aos domingos, no botequim, é servida em cálices a partir das dez da manhã. Enquanto as mulheres estão na missa, os homens vão de birita e cerveja – gole contra gole.
Quando você vem do trabalho e passa no botequim, a coisa fica mais solene. É preciso ir direto ao balcão.
- Olá senhor – diz o homem atrás do balcão.
- Olá – diz você.
- Vai tomar uma branquinha?
Você balança a cabeça.
A garrafa surge, o liquido de uma cor belíssima sobe no cálice.
_ Dois dedos?
- Três.
Três dedos no cálice, sobre o balcão. Deve-se contemplar longamente a água que passarinho não bebe, enquanto pensamentos rudes, viris, pensamentos de homens macho, tornam crispadas as pálpebras. Em seguida, a fisionomia se desata em serena aceitação do destino. Você segura o cálice, você ergue o cálice, você leva o cálice a boca, inclinando a cabeça para trás, e engole os três dedos da perigosa. Lambe os beiços e faz uma careta de raiva impotente, e vai até a porta da rua e dá uma cuspida na calçada, e exclama:
- Arre!
Aí lembra que ainda é cedo, a patroa ainda deve estar preparando a boia. Volta ao balcão e diz com a mesma expressão de desgosto e cólera:
- Bota outra.
- Perfeitamente
Assim procediam os cachaceiros de minha infância, os adultos em geral, mas entre as mulheres, sobretudo idosas – nunca dispensavam o aperitivo diário (minha saudosa mãe fazia isso sempre). Abria o apetite.
E assim a vida foi passando, mas os costumes do boteco não morreram, fizemos isso sempre que dá.
As vezes bebemos para esquecer, mas muitas vezes, bebemos para lembrar.
Vou pedir ao Junior Vieira, meu Editor Chefe, que mude meu dia de escrever. Sexta feira não é um bom dia. Sexta feira já ganhou o título de SEXTOU e aí já se imagina que sexta feira é dia de BB (belisco e birita).
Hoje, num bar de aqui de Santa Tereza tomei uma cachaça que era simplesmente o “must”, aí me veio a ideia de escrever minha crônica sobre a malvada pinga.
A cachaça antes do almoço e antes do jantar, é a abrideira. Toma-se uma, duas, três, a vontade do freguês. Os senhores mais respeitáveis, que não bebem, ainda assim fazem questão da abrideira – mas só um cálice. Isso é para as crianças ficarem sabendo que o dono da casa tem certos privilégios.
Aos domingos, no botequim, é servida em cálices a partir das dez da manhã. Enquanto as mulheres estão na missa, os homens vão de birita e cerveja – gole contra gole.
Quando você vem do trabalho e passa no botequim, a coisa fica mais solene. É preciso ir direto ao balcão.
- Olá senhor – diz o homem atrás do balcão.
- Olá – diz você.
- Vai tomar uma branquinha?
Você balança a cabeça.
A garrafa surge, o liquido de uma cor belíssima sobe no cálice.
_ Dois dedos?
- Três.
Três dedos no cálice, sobre o balcão. Deve-se contemplar longamente a água que passarinho não bebe, enquanto pensamentos rudes, viris, pensamentos de homens macho, tornam crispadas as pálpebras. Em seguida, a fisionomia se desata em serena aceitação do destino. Você segura o cálice, você ergue o cálice, você leva o cálice a boca, inclinando a cabeça para trás, e engole os três dedos da perigosa. Lambe os beiços e faz uma careta de raiva impotente, e vai até a porta da rua e dá uma cuspida na calçada, e exclama:
- Arre!
Aí lembra que ainda é cedo, a patroa ainda deve estar preparando a boia. Volta ao balcão e diz com a mesma expressão de desgosto e cólera:
- Bota outra.
- Perfeitamente
Assim procediam os cachaceiros de minha infância, os adultos em geral, mas entre as mulheres, sobretudo idosas – nunca dispensavam o aperitivo diário (minha saudosa mãe fazia isso sempre). Abria o apetite.
E assim a vida foi passando, mas os costumes do boteco não morreram, fizemos isso sempre que dá.
As vezes bebemos para esquecer, mas muitas vezes, bebemos para lembrar.