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POLITICA
16/01/2025 08:55

Sudestinos relembram os 40 anos da eleição de Tancredo Neves



Ele venceu o deputado Paulo Maluf no Congresso Nacional: 480 a 180 votos

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Há 40 anos, o governador de Minas Gerais, Tancredo Neves (PMDB), 74 anos, era eleito presidente do Brasil. Ele derrotou o deputado federal Paulo Maluf (PDS-SP), 53 anos, no colégio eleitoral: 480 votos a 180. Era uma terça-feira, e o Brasil estava pronto para vibrar, depois de uma campanha memorável pelas “Diretas já” para presidente, em 1984 (que não passou na Câmara dos Deputados).

“Eu estava participando de uma carreata pelos distritos de São João, que culminou em um grande encontro festivo no Clube Social da cidade. Que dia!”, recorda o comunicador e escritor José Antônio Rezzardi.

O ex-prefeito de Flor da Serra do Sul Paulo Savaris também puxa da memória: “Lembro-me claramente de onde estava em 15 de janeiro de 1985. Com apenas 17 anos, e cursando o 3º ano do ensino médio, já nutria um grande interesse pela política, especialmente após o movimento das “Diretas já” em 1984. A eleição de Tancredo Neves foi um marco significativo para mim e para tantos outros que sonhavam com a redemocratização do Brasil.

Minha torcida estava com Tancredo, pois ele simbolizava a esperança de um país mais livre, justo e solidário”.

“Na época, muita  expectica  positiva, pois Tancredo  era um político  de muito diálogo, seria um grande  presidente,  conhecia  todos  os setores  da área pública”, destaca o beltronense Sérgio Galvão, que se elegeria vereador três anos depois, em 1988, pelo PMDB.

E hoje, com os olhos da experiência, Sérgio pondera: “Suceder 20 anos  de regime  militar de muito progresso não seria fácil. O  regime  implantou as maiores  obras de infraestrutura  no país, tirou o Brasil da 48ª economia do mundo e colocou na 8ª, um salto  como  nunca visto; Tancredo teria que se esforçar  para se igualar, mas acredito que seria um bom presidente”.

“Diretas já”

A campanha das “Diretas já” explodiu no país em 1984, tendo à frente, além do governador Tancredo, lideranças como os governadores Franco Montoro (PMDB-SP), José Richa (PMDB-PR) e Leonel Brizola (PDT-Rio), o senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB-SP), os deputados Ulysses Guimarães (PMDB-SP) e Miguel Arraes (PMDB-PE), e o presidente do PT, Lula, entre outros.

Comícios em várias capitais, e o projeto encaminhado foi o do deputado desconhecido nacionalmente Dante de Oliveira, do PMDB do Mato Grosso,  que ficou então famosíssimo. Mas, em abril de 1984, a emenda não passou. Foram 298 votos a favor (mas precisava de 320) e 65 contra, e 113 ausências.

A mobilização então foi para a disputa indireta, no Congresso Nacional, para janeiro de 1985.

Vereador do PMDB em Renacença, José Kresteniuk relembra: “O sonho do Brasil era a liberdade, a vontade de eleger presidente, como demonstrou a campanha das diretas de 84, juntando vários segmentos da sociedade com um único objetivo. Não deu. A luta continuou. E Tancredo venceu, mas daí a grande frustração depois, com sua doença e morte. Quando veio essa notícia,  foi uma desesperança total, tudo que se imaginava para o país com Tancredo não se consolidou”.

De fato. Tancredo venceu em janeiro e assumiria dois meses depois, em 15 de março. Na véspera, porém, foi internado e não se recuperou mais — faleceu em 21 de abril.

Fábio Forselini, advogado em Pato Branco: “Uma das recordações tristes que tenho dos anos de 1985 foi a morte do presidente Tancredo Neves. Eu morava em Curitiba, fazia cursinho no Dom Bosco, quando o país todo estava esperançoso por democracia. E que estranha e fatídica fatalidade: adoeceu um dia antes da sua posse. A tristeza foi gigantesca. O país parou. Muitas lágrimas. Queríamos liberdade. Queríamos democracia. Queríamos viver  em paz, sem opressão. E o destino trouxe o Sarney, um fato insólito na nossa história”.

Paulo Savaris: “Em minha casa, o envolvimento com a política era constante, já que meus pais eram filiados ao MDB durante o regime bipartidário na ditadura [MDB e Arena]. Eu vivia essa realidade não com rebeldia, mas com a esperança de dias melhores. O período que se seguiu, com o adoecimento e o falecimento de Tancredo Neves, foi de grande tristeza e comoção nacional. Foi doloroso ver aquele sonho de transformação interrompido de forma tão abrupta. Havia uma expectativa de vê-lo à frente da redemocratização, algo que muitos brasileiros compartilhavam na época”.

Eleição direta em 1985

Sarney assumiu dia 15 de março de 1985, porque era o vice na chapa de Tancredo. Mesmo com uma vida inteira na Arena e no PDS, Sarney fez parte do racha que aconteceu no governo e formou o PFL — que apoiou Tancredo contra Maluf. Mas na época não podia ter chapa com partidos diferentes, daí Sarney se filiou no PMDB. E aos 54 anos sentou na cadeira de presidente.

Naquele ano, governou com o ministério que havia sido nomeado por Tancredo e foi  cumprido o acordo de ter eleição direta nas capitais e municípios de segurança nacional.

O então vereador do PMDB de Santo Antônio do Sudoeste Ademar Traiano — hoje presidente da Assembleia Legislativa do Paraná — dá seu testemunho: “Eu era vereador, e se falava muito em eleição direta para os municípios da fronteira, era um assunto muito presente, a população queria escolher seu prefeito, não só seu vereador”.

Traiano lembra que comemorou muito a vitória, em eleição direta, de José Richa para o governo do Paraná, em 1982. “Isso nos animava para logo termos também eleição direta para prefeito dos municípios da fronteira. E estávamos todos torcendo para o Tancredo, desde a campanha das Diretas e depois no colégio eleitoral; o país queria uma ampla democracia. E em 1985 tivemos então a nossa eleição”.

Naquele novembro de 1985, as capitais e os municípios de segurança nacional votaram para prefeito. O vereador Traiano venceu em Santo Antônio do Sudoeste. Em Curtiba, a vitória foi do deputado estadual Roberto Requião (PMDB).

“Eu não queria que o Tancredo Neves fosse morrê”

Em 1985, Camila Slongo Pegoraro Bonte, atual procuradora geral da Prefeitura de Francisco Beltrão, ainda não tinha completado três anos. Acompanhava diariamente, com os pais Ivo e Irma, o noticiário da televisão. Dia 22 de abril de 1985, seu pai anotou, conforme está no livro “Nossos filhos, nossa vida”:

“Durante a manhã, a Camila estava de pé no chão. A mãe insistia, mas ela teimava. Quis saber se o Tancredo usava sapato. Depois esticou as pernas e disse: “Mas eu não tô morrendo, óh!”.

Mais tarde, num momento em que a mãe costurava à máquina, a Camila, com a mamadeira na boca, aproximou-se e, beiços caídos, ar de choro, falou: “Eu não queria que o Tancredo Neves fosse morrê!”