24/08/2024 14:25
O Paraná teve a influência da La Niña entre 2019 e 2021. Foram anos que tivemos média de mais de 12 mil ocorrências florestais por ano - em um ano normal seriam 5 mil”, afirmou a capitã Luisiana
O cenário desafiador apresentado pelo Corpo de Bombeiros Militares do Paraná (CBMPR), em maio deste ano, no 1º Workshop de Prevenção e Combate a Incêndio Florestal, realizado em Curitiba, vem se tornando realidade. A expectativa de aumento expressivo das ocorrências dessa natureza já se traduz em números. Neste ano, até esta quinta-feira (22), foram atendidos 9.344 incêndios em vegetação no Estado, contra 4.011 situações semelhantes no mesmo período de 2023. Uma alta de 132%.
“Esse aumento preocupa, pois não se refere apenas ao quantitativo, mas à área queimada e à quantidade de dias destinados no combate a incêndios florestais. Neste ano, condições climáticas estão favorecendo essa propagação do incêndio e dificultando sua extinção”, disse a capitã Luisiana Guimarães Cavalca, integrante da Câmara Técnica de Prevenção e Combate a Incêndio Florestal do CBMPR.
Historicamente, o mês de agosto costuma ter estatísticas elevadas nesse quesito. Em 2024, porém, tem sido especialmente severo. Temperaturas elevadas, baixa umidade relativa do ar e chuvas escassas são alguns dos fatores que contribuem para a proliferação dos incêndios, como o que atualmente castiga a região da Ilha Grande e Alto Paraíso, no Noroeste.
Sete bombeiros militares, apoiados pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), trabalham contra as chamas no local. A chegada da chuva naquela região, na sexta-feira, 23 de agosto, já ajudou a aplacar o incêndio.
Relativamente perto dali, o fogo consumiu boa parte de uma Área de Preservação Permanente Ecológica (APP) em Maria Helena. Cianorte, que ainda tem alguns focos isolados aparecendo, e o Parque de Vila Velha, nos Campos Gerais, também sofreram com a força das chamas neste mês. Somente em agosto, até esta quinta (22), o Corpo de Bombeiros recebeu 2.274 chamados desse tipo. Comparativamente, em todo o mês de agosto de 2023, haviam sido 955.
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PLANEJAMENTO – Como parte da Operação Quati João, que anualmente é organizada pelo CBMPR para promover a prevenção e o combate a incêndios florestais, a Corporação tem realizado reuniões periódicas com entidades civis e governamentais. Nesses encontros, são feitas atualizações dos cenários meteorológicos, com apoio do Simepar, apresentados os casos mais recentes de incêndios florestais e discutidas estratégias de atuação para o período seguinte.
Uma das preocupações para o ano é a chegada da La Niña, prevista para setembro. O fenômeno, embora deva ser mais ameno do que o projetado inicialmente, deixará o ambiente mais seco, propiciando o aparecimento dos focos de incêndio.
“O Paraná teve a influência da La Niña entre 2019 e 2021. Foram anos que tivemos média de mais de 12 mil ocorrências florestais por ano - em um ano normal seriam 5 mil”, afirmou a capitã Luisiana. “Como os modelos climatológicos indicam que no final de agosto já poderemos ter influência da La Niña, há uma preocupação de que esses incêndios florestais sejam ainda mais frequentes e com maior potencial de propagação. Pelo menos até outubro, quando os números costumam diminuir”.
Assim, a projeção é que o fogo em áreas de vegetação siga dando trabalho extra aos bombeiros em 2024. “Pelas condições repassadas pelo Simepar, o Corpo de Bombeiros se prepara para manter atendimento de ocorrências de incêndios florestais com número elevado, uma vez que as condições climatológicas seguirão propensas aos riscos de incêndios florestais”, admitiu a oficial.
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APOIO – Além da ação do Corpo de Bombeiros, o combate a incêndios no Paraná tem recebido o apoio do Instituto Água e Terra (IAT). O órgão ambiental tem contribuído ativamente com a mobilização de equipes próprias e com a utilização de aeronave especializada para despejo de água em locais de difícil acesso.
Os servidores do IAT estiveram em ação, por exemplo, na Ilha Bandeirantes, no Parque Nacional de Ilha Grande, debelando o incêndio no local junto com os brigadistas do ICMBio. Também auxiliaram em ocorrências grandes no município de Maria Helena; no Parque Estadual de Vila Velha, nos Campos Gerais; e na Florestal Metropolitana, em Piraquara. Atualmente, estão apoiando os bombeiros em Cianorte.
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CAUSAS – As condições do clima, os tipos de terreno e vegetação podem ajudar a propagar incêndios florestais com maior ou menor velocidade. Mas as principais causas para essas ocorrências, segundo estudos científicos, é a intervenção humana. Em torno de 90% dos incêndios florestais surgem por ação do homem, de modo intencional ou não intencional.
Para ajudar a evitar esse tipo de desastre ambiental, é possível tomar algumas medidas, como destinar o lixo para locais apropriados; não fazer queima de lixo, de restos de folhas e galhos; não utilizar o fogo para limpeza de terreno; ao utilizar fogueira, certificar-se que ao final a mesma foi apagada com água ou terra; não soltar balões.
“Em caso de se deparar com uma queimada de pequeno porte, tente apagá-la com balde de água ou mangueira de jardim; caso a mesma esteja gerando risco, chame imediatamente o Corpo de Bombeiros pelo telefone 193”, afirmou a capitã Luisiana.