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Abadia desconectada.

12/08/2023 03:38

PAULO ADEMIR BRAUN


O sagrado e o profano. O passado e o futuro no escuro insano.

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                                        Abadia desconectada

Abadia de Clervaux. Ela está  a 200 metros de onde moro. Eu sou de hábitos madrugueiros, por isso pouco afetado. O sino toca por dezessete minutos, entre 7 e oito horas da manhã. O som do sino é o eco de um passado sombrio. Eco é a deusa da ultima palavra. Não quero escrever sobre mito ou teoria. Vou falar sobre esta abadia.

A ordem dos Beneditinos foi fundada no século VII. Foram expulsos da frança, durante a revolução francesa. Em 1901 a ordem construiu e se instalou na abadia de São Maurício, aqui em Clervaux, luxemburgo. Um mosteiro é denominado abadia, por ser administrado por um abade (=pai ou superior). Abadia tem autonomia. Não é submetida ao bispado. Essa abadia é impressionante. A arquitetura é razoavelmente moderna, toda construída em pedra, inclusive a muralha com 4 metros de altura. Tem uma sala de trabalhos artísticos e exposição no subsolo. Dentro do cemitério dos monges tem uma estátua de nossa senhora, com mais de 30 furos de bala de fuzil, dos tempos da segunda guerra, quando a abadia ficou com a Gestapo por 5 anos. Os monges fugiram, na invasão nazista. Hoje o local abriga 11 monges. A 50 anos eram bem mais de 100. Vivem  numa bolha. Sem televisão, pouco trabalho, mais rezas, cânticos e meditação. A religião no Luxemburgo está em uma faze derradeira. A religião tem um fluxo inversamente proporcional a educação. Os religiosos são pagos pelo estado, mas já estão com os dias contados. Os monges desta abadia tem uma renda extra, da produção de 20 mil litros de suco de maçã e 20 quartos de hospedagem.

Provavelmente o hóspede mais ilustre foi o grande escritor italiano Umberto Eco. Ele morou por 6 meses, para ambientar e adaptar para o cinema, o seu livro, O Nome da Rosa. duas obras emblemáticas. A genialidade do escritor transborda na frase que jogou luz a atualidade definhante ao afirmar que: 'A internet deu voz aos imbecis'. Nelson Rodrigues disse que o idiota tinha vergonha das suas idiotices até encontrar outro idiota e sairam para a rua pra comemorar e na roda de bar a turma só crescia, até descobrir que eram maioria. mas a idiotice era restrita a roda de bar. A internet espalhou. E idiotice contagia. E como fazer para ouvir algo descente nesta gritaria. Quem é inteligente não grita, apenas fala ou se cala.

O que melhor aprende não é o que fala, mas o que cala e ouve com atenção. De nada serve informação sem formação, que leva tempo esforço e determinação. A conclusão é que a imensa maioria não pensa, apenas tem um condicionamento mental automático, repetindo um círculo vicioso. Nesta balburdia eu tenho lugar de fala. Deixo a pergunta que não cala: só doutor tem direito a fala ou o que vale é a fala da multidão? 





Ademir