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GERAL

Meu Deus, que medo!

Não existia a palavra bullying, mas o jogo era esse. Se você vinha do interior, era o colono. Se era gordinho, era o baleia

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Meu Deus, que medo!
Junior Vieira

Meu Deus, que medo!


Muitos de vocês que me leem agora são desse tempo. Eu tinha por volta de 14 anos e fazia pouco que tinha saído do interior de Santo Antonio do Sudoeste, lá da Linha Glória, para morar na cidade. Eu era o que a gente chamava de xucro mesmo, aquele piazão criado pegando cachorro a laço, bicho do mato e de uma timidez que não cabia no peito.



Chegar na escola na cidade naquele tempo era um choque de realidade. Não se falava em ensino médio, o que a gente queria era vencer o Segundo Grau. E o acesso a ele não era para todos. Hoje o material é distribuído, mas naquele tempo, para o filho de colono estudar, o sacrifício era pesado. Não eram raros os casos de pais que precisavam vender uma junta de bois para conseguir comprar os livros e o material escolar. Nada era de graça. Estudar custava caro e muitos não faziam o segundo grau porque simplesmente não tinham como comprar o material.


Na escola, o jogo era bruto. Não existia a palavra bullying, mas o jogo era esse. Se você vinha do interior, era o colono. Se era gordinho, era o baleia. O pau quebrava no recreio, que a gente nem chamava de intervalo. A regra era clara: quem pode mais chora menos. A quadra de esportes era áspera, nada dessas quadras lisinhas ou de taquinhos que vemos hoje. A bola, quando tinha, era aos pedaços. Muitas vezes nossa bola era de meia, ou pior: a gente colhia limões para fazer de bola, ou usava uma latinha de refrigerante amassada. Era o que tinha, e os maiores e mais destemidos ainda conquistavam o direito de jogar no grito. O resto ficava só olhando.


Mas nem tudo era briga. A gente escrevia as cartinhas para as meninas e, quando a professora pegava a tal cartinha, era aquele rolo na escola, uma vergonha que não acabava mais. E na hora do aperto, a gente dava um jeito: fazíamos a cola para as provas e alguns de vocês com certeza lembram da meia lua, aquele pedaço de papel que a gente pregava estrategicamente na carteira para tentar salvar a nota.


E no meio dessa sobrevivência escolar, ainda vinha o rádio e as conversas de calçada dizer que o mundo ia acabar. Ah, em tempo, preciso dar os créditos: o nome desta coluna foi ideia da Ju. Quando cheguei na empresa, às 6h30 no escritório, e disse que iria escrever sobre o tema do fim do mundo, ela disse de prontidão: "Eu lembro! Meu Deus, que medo!".


Esse era o sentimento. Imagine a cabeça de um guri de 14 anos: de um lado, o medo de ser zoado por vir do interior ou de não conseguir pagar os livros do próximo ano; do outro, o pavor do tal Bug do Milênio que ia desligar o planeta na virada de 1999 para 2000. Depois veio 2001 e 2002 com boatos que surgiam do nada e se espalhavam como rastro de pólvora. O sentimento era de um terror real. A gente ouvia os comentários no rádio e o clima era pesado. Sobrevivemos às profecias, às brigas de recreio e à dureza da vida que forjou a casca grossa da nossa geração.


Hoje, me vejo aqui, último dia do ano, 31 de dezembro de 2025. Faço a seguinte reflexão: já se passaram 25 anos do temido dia em que o mundo iria acabar. E eu digo que o mundo sim acabou, mas para aqueles que não estão mais conosco. Acabou para o meu pai, quando eu o perdi aos 9 anos. Mas ele está vivo no meu coração e nas minhas memórias, o Aurélio, o Santo para os mais próximos, esse era o seu apelido.


O que eu quero dizer para você que leu essa coluna, que tenha esperança, acredite nos seus objetivos, faça tudo o que você pode fazer, o que está em suas mãos para fazer. O que depender dos outros ou do mundo não tem o que fazer. Que venha 2026! Daqui algumas horas vamos comemorar a chegada do Ano Novo. Vamos cuidar dos nossos, da nossa família, de nós, dos nossos colaboradores, dos nossos colegas, dos nossos amigos, e principalmente, cuidar do que vamos fazer para os outros, porque isso fala muito mais de nós do que os outros. Fé, resiliência e trabalho para todos nós conquistarmos os nossos objetivos.


Feliz 2026!


Por Junior Aurélio Vieira de Oliveira 


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