Sapecada
Sapecada da Canção Nativa, arte na definição, antecedido pela fase local, Sapecada da Região Serrana, festival de música e tradição, que faz parte da Festa do Pinhão, de Lages, SC. Quase 700 músicas escritas. Milhares de artistas envolvidos. Organização impecável. Ambiente formidável, e a sensação de missão cumprida, depois de passar a vida sonhando em participar dessa festa. Fica a minha recomendação.
Pode parecer não ser a minha área, mas eu tenho experiência. Desde criancinha eu já tinha essa ligação com grimpa, pinhão e música. O fogo transformou semente em comida, facilitando a minha vida. Queimou espinhos e iluminou o meu caminho. Assim eu cresci e desde guri eu já ouvia música gaúcha. Me 'fiz' homem ouvindo: (aprendi a domar amanunciando égua e pra mulher vale as mesmas regras. Morocha, Davi Menezes Jr). Imagina. Mas significância a música me apresentou, quando cantou a minha dor. Na música, Rock Bagual, na voz do Gaúcho da Fronteira, me fez perceber que um poeta sente a dor que dói na gente. Fui pesquisar quem era o autor Vaine Darde e descobri que o Homem gaúcho é capaz de dizer isso daqui: (Tu és mãe que pare, a mãe que zela e, as vezes, tens por filho o filho alheio... Sublime e divina te revelas quando um anjo suga a vida no teu seio. Vaine Darde). em homenagem as mulheres. E depois daí eu percebi que poderia ser que a música gaúcha não seria a sustentação ou a perpetuação do machismo.
Pinhão assado na grimpa, essa é a tradição. Foi a minha intenção quando fui pra Lages, na festa do pinhão e por extensão, na Sapecada da Canção Nativa. Evento central para a manutenção cultural da tradição de cantar e representar esse jeito rústico, do habitante nativo. A festa do pinhão aconteceu e rendeu, porque o pinhão pode ser consumido cozido. Não foi porque choveu que a Sapecada sapecou ou apenas chamuscou.
Foi pelo resultado. O resultado foi uma decepção. A desolação no rosto das mulheres que estavam presente, foi como por água quente na flor. Murchou. O sorriso ficou sem cor. A música 'Mulheres', uma composição lindíssima, coerente... honestamente mostrou, com poesia, o dia a dia, a lida e a luta das mulheres do campo. Um encanto, interpretada por 5 mulheres, mas nen se quer teve uma menção. O jurado composto por 6 homens e uma única mulher, deu o prêmio, música e interpretação a Pirisca Greco, o grande vencedor da noite escura e chuvosa, na cidade de Lages.
Impressionado com o tamanho da festa, que fez jus a tradição, a decepção foi me parecendo que os jurados não estavam preparados. As mulheres mais uma vez ficaram de lado. Juliana Spanevello, com a música Ponchito Antigo, impecável e Identidade, cantada por Camila Alexandre e Maria Cristina ficaram na saudade. Mulheres.
Sou fã do Pirisca Greco, mas a música, poncho miliquero, campeã? Não. Miliquero sem tradução, alusão talvez a origem miliciano, não me convenceu. Cheguei a tarde, no ensaio foi a minha primeira experiência ao vivo em festival tradicional. Casualmente foi a música que estava ensaiando, na hora. Minha primeira impressão foi ouvir um plágio fraco de 'Quando se vende um sonho'. Medonho foi sair com a sensação de que a tradição adora: 'ajoelha e chora, ajoelha e chora, quanto mais eu passo o laço, muito mais ela me adora'. Pobre.
Coxilha Pobre, ficou com o segundo lugar. Uma música atualíssima que me fez andar 200 kilometros, para conhecer a tradicional Coxilha Rica pela última vez. Esse santuário, cenário de preservação da tradição. Não porque eu vou morrer, mas a Coxilha vai desaparecer. Vai virar plantação de pinus. Um verdadeiro desatino como disse a música: (Tudo o que no campo vive, hoje perece por dinheiro, Luiz P. Também).
Fonte: pesquisa
Autor: Paulo Ademir Braun
Crédito da imagem: Paulo Ademir Braun
Repórter: Paulo Ademir Braun